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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Os Whashaii e Meu Interesse por Física Quântica


No século IX antes de cristo, em um lugar ermo, próximo de onde é hoje a Polinésia, existia uma tribo peculiar, os Whashaii (pronunciá-se "uuuaaakaii-e"), que em em sua linguá nativa significava "aqueles que caçam o sol".

Essa tribo, dentre seus muitos costumes peculiares, tinha uma forma de culto que envolvia a escolha de um ser humano para encarnar seu deus-menino, Huakthalah. 

Huakthalah era um deus-menino eternamente com 17 anos e como era necessário manter seu deus tanto ao alcance das orações quanto dos dedos, os Whashaii, que consideravam absurdo simbolizar em matéria morta um deus vivo, escolhiam uma vez a cada ano, um dos seus filhos com essa idade para encarnar seu deus.

Ao garoto que cabia essa honra eram atribuídos todos os benefícios da divindade, a saber, um templo, acólitos para o servirem, adoração, tratamento especial dado pelos acólitos que em tudo atendiam o deus-menino no que este necessitasse ou em seus caprichos mínimos.
Homens vinham em busca de seu conselho para a pesca e para a caça, agricultores o consultavam sobre a ocasião propícia para o plantio e a colheita, mulheres vinham acasalar com o deus menino como garantia de que seriam sempre férteis e que seus filhos seriam fortes.

O menino que fosse escolhido para por um ano ser o avatar do deus Huakthalah, recebia tudo o que seu coração desejasse, enquanto era a encarnação do deus e esse tratamento tinha um motivo:
Era uma compensação, porque ao término do ano solar dos Whashaii (que era de 383 dias), o deus menino completava a maioridade e necessitava ser substituído.

O problema, era que não havia um plano de aposentadoria para deuses depostos e ocorre que Huakthalah era o deus da fertilidade, da virilidade e da mudança, então, quando terminava seu ciclo de 383 dias como um deus, o garoto era levado, em uma grande cerimônia que envolvia a tribo inteira (com exceção dos garotos com menos de 18 anos), até a beira do mar.

Ali era castrado (e seus testículos e pênis eram depois cremados e as cinzas bebidas junto com vinho de banana por todos os homens) e morto com golpes de um remo cerimonial na nuca.

Os guerreiros levavam o corpo do deus morto até o mar, onde o entregavam às ondas.

Naquela noite havia uma grande festa na tribo e os homens dançavam em volta da fogueira, orgias aconteciam na luz das labaredas e nas cabanas, amedrontados os meninos de 16 pra 17 anos suavam de pavor, porque no dia seguinte, um deles seria um deus.

Se você procurar referências sobre os Whashaii e seus deus-menino Huakthalah no Google, não irá encontrar por dois motivos:

O primeiro é que a tribo é do século IX antes de cristo e não foi catalogada e se o foi, estava decadente, recebeu outro nome e nada se soube sobre seus costumes e seu deus.

O segundo e principal motivo, invalida o primeiro motivo e tudo o que foi dito até agora é o seguinte: Eu inventei essa história toda!

Nunca existiram Whashaii e menos ainda Hukthalah.

Inventei essa potocada em uma conversa divertida com uma namorada.
Foi mais ou menos assim. Eu estava fazendo graça e me gabando, daí ela:

(...)
-Que você pensa que é? Um deus?
...
-Que foi?
-Nada...
-Fala logo!
-Tá bom, mas prometa que não vai me interromper enquanto falo...
-Ai ai.. tá, fala,

-Eu não sou um deus, mas já fui um, em uma encarnação passada... Foi assim, no século IX antes de cristo..."

E lá me vieram na hora os Whashaii e Huakthalah na cabeça.
E dei tantos detalhes na coisa, que ela depois custou a acreditar que inventei tudo.
Foi só pra ter uma conversa interessante e diverti-la com o suposto da minha megalomania, porque eu nem acredito em reencarnação, mas em uma vida anterior teria sido um deus...

Semanas depois assisti a um documentário que falava de física quântica e universos alternativos.
Postulavam lá que cada vez que você escolhe seguir um caminho, cria-se outro universo, um em que você tomou o caminho que não escolheu neste.
E isso faz toda a diferença.
Claro, estou fazendo uma interpretação rasteira de uma teoria que mal compreendo.
Ainda estou tentando entender a teoria quântica e também o sedutor trabalho de Robert Lanza, mas se ele estivere certo e a consciência criar o universo (e não o oposto, como estamos acostumados a pensar), é possível que eu tenha criado um universo à parte, apenas por pensar nele - embora não seja esta a afirmação do Biocentrismo ou da física quântica, mas inferência minha- (deixa eu devanear, pô!), um em que centenas de meninos serão sumariamente emasculados e mortos. 
Condenei essa gente toda a uma morte cruel, só para distrair minha namorada.

É possível que algum palerma em universo anterior, tenha ferrado a nós todos, contando-nos como história para alguém, por um motivo ainda mais fútil...
E a gente chamando o cara de Criador...
Putz!

Por outro lado, de certa forma, é reconfortante pensar que em algum universo as coisas que deram errado para mim neste tenham dado certo.
Em algum desses universos aí, pode ser que eu esteja vivendo, livre do peso de tantas culpas carrego neste.
Todas as escolhas que eu não fiz e pelas quais lamento, é possível que não estjam mortas.
Se Lanza estiver certo (tomara que esteja) é possível que nada morra!

Claro, há, seguindo essa linha de raciocínio, universos em que estou pior, ou em que nem estou, mas ainda assim, consola meu coração pensar que no infinito ha universos em que eu tenha na alma a calma que não consegui neste e em outros eu tenha finalmente consumido o mundo em chamas e  destruído tudo, como frequentemente desejo fazer neste.

E me perdoem Lanza e os teóricos quânticos (cujos trabalhos mal comecei a conhecer e pelos quais sou fascinado), mas o genial Álvaro de Campos/Fernando Pessoa já no comecinho do século vinte esboçava os conceitos sobre os quais agora se debruçam.

Pois se vocês lerem as linhas abaixo e tiverem como eu um conhecimento mínimo sobre a teoria de universos alternativos da física quântica, compreenderam as similaridades. Leiam, porque eu vou dar um tempinho aqui e tentar consertar a lambança que fiz no universo dosWhashaii.
Não que eu me sinta culpado, é claro. Afinal, fui o deus deles. É minha prerrogativa divina ferrar com o universo deles ou consertá-lo, ao meu bel-prazer.

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,  
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,  

Relembro, velando em modorra incômoda,  
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.  
Relembro, e uma angústia  
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.  
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!  
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.  
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.  
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,  
Na ilusão do espaço e do tempo,  
Na falsidade do decorrer. 
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;  

O que só agora vejo que deveria ter feito,  
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —  
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,  
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver ... 
Se em certa altura  

Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;  
Se em certo momento  
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;  
Se em certa conversa  
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —  
Se tudo isso tivesse sido assim,  
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro  
Seria insensivelmente levado a ser outro também. 
Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,  

Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;  
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;  
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,  
Claras, inevitáveis, naturais,  
A conversa fechada concludentemente,  
A matéria toda resolvida...  
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói. 
O que falhei deveras não tem sperança nenhuma  

Em sistema metafísico nenhum.  
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,  
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?  
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.  
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos, 
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca  

Como uma verdade de que não partilho,  
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.




17 comentários:

  1. Estou torcendo para uma revolução nesse universo recém criado... Alguma família, uma mãe, um pai, algum grupo de jovens, uma namorada desesperada por não perder seu amor (Uma Julieta ao reverso) enfim alguém tem que questionar essa tradição e acabar com a matança dos meninos!!!

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  2. Uai, minha cara Pandora!
    Uma Julieta Whashaii me parece extremamente boa!
    Uma revolução feminina liderada por uma guerreira e a derrocada de um culto fálico e cruel com consequente substituição por um religião mais afável (talvez um culto à Mãe Terra, que é fértil e gentil).

    Só estou esbarrando no problema de que eu estou diretamente ligado a questão por dois motivos:
    1-Eu sou Whakthalah (pelo menos fui - segundo a mitologia criada em conversa matreira com uma namorada - um dos muitos avatares dele), logo, estarei desenhando o roteiro da minha própria queda nas mãos de uma versão de Gaia Guerreira (tentador!).
    2-Eu criei esse universo, e se eu for destruído nele, corro o risco de ver minha fazenda de formigas morrer junto comigo.

    Acho que é melhor adotar uma solução mais política, que não envolva suicídio (ou deicídio). Talvez Gaia dê umas bifas em Whakthalah e obrigue-o a crescer de vez e mudar a ritualística do seu povo (alguma coisa que não envolva castração e morte, pra começar).

    Mas deixemos que os pais, mães e julietas whashaii me enviem súplicas e orações, libações e velas e eu talvez, comovido, d~e fim ao flagelo dos garotos avatares.

    Em tempo, se meu devaneio estivesse de alguma forma ligado à realidade das coisas, imagino que todas as histórias de todos os livros já escritos, criações de seus autores, estejam aí nesse multiverso, coexistindo com todas as outras fantasias criadas (e segundo Pessoa, não-criadas).

    Cheros!!

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    tô no 4 período de antropologia, daí li isso e pensei UOU!
    ta aí uma coisa que eu não li.
    E vem vc e diz que é tudo mentira sua!
    Sério? Inventou tudo?
    Mas que fdp!
    Eu já tava toda curiosa com essa historia.
    Muito engraçado senhor sahge!
    Puxa, queria e não queria ser sua namorada!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  4. Cara Helena...
    Antropologia?! (Ai, inveja! Pecado capital que não gosto muito de cometer, mas kharma é kharma...)
    Desculpe se decepcionei seu interesse, mas sim, inventei a coisa toda.
    E foi divertido fazê-lo, embora, como devaneei, posso ter no processo ferrado um monte de moleques ao criar um cruel universo alternativo.

    Se não quer ser minha namorada, eu posso compreender (por motivos que você desconhece).
    Mas como voce parece na dúvida, caso se decida por querer, os requisitos são simples;

    1-Me alimente
    2-Ria das minhas piadas, mesmo que sejam as mesmas e que eu as repita na semana seguinte.
    3-Discorde das minhas ideias, mas defenda-as quando gente "de fora" as criticar.
    4-Não seja capricorniana com ascendente em nenhum signo da terra ou água.
    5-Tenha mais dinheiro do que eu (coisa que não é difícil e que acho sexy pra caramba!)
    6-Seja cética, mas ainda assim, tenha medo de fantasmas, ets e etc...

    Prontinho.
    Se habilita?

    PS: Obrigado pelo "senhor Sahge". Adoro quando menininhas me chamam de senhor. É refrescante e me sinto um jovem de 375 anos.
    kkkkkkkkkkkk

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  5. Ô, menininha é tua vó!!
    kkkkkkkkkkkkkk
    Eu já tenho 26, flw?
    Não fica birrento por causa de um "senhor", tio. Eu chamo de senhor até meu sobrinho de 11 anos.
    Mas que tanto de exigência! Se está solteiro vai morrer assim.
    kkkkkk
    Posso começar só te alimentando?
    E sou aquariana acendente em libra

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  6. Essa caixa de comentários fica cada vez melhor hahaahah

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  7. Cara Helena...
    Quando você entrar nos "enta" e começarem suas "ises" e "oses" (sinais claros de sua decadência física, também vai melindrar cada vez que alguém te lembrar sutilmente que você está cada vez mais perto da grande e escura noite do seu destino (me chamou de velho, moça! É verdade, mas não é legal...kkkkkkk)

    Obrigado por enviar o "Ritos Corporais entre os Nacirema". Eu vi isso de passagem na faculdade, mas me lembro bem da sensação de que fui enganado ao ler (por uns minutos quase achei que era mesmo uma tribo de "selvagens", mas quando o professor confirmou quem eram, então tive certeza! Eram selvagens do pior tipo!)

    Ps: Você tem dois signos do ar! Caraca! Nada te atinge, né? Provavelmente pode andar em cima de uma navalha e não se corta!

    PS2:Tentador ser alimentado por você. Seria um bom começo, mas sabe, você me chamou de tio e tenho por princípios não namorar sobrinhas...

    Sorte na faculdade e na vida...
    ^^

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  8. Cara Pandora...
    Não imaginei ao criar os Whashaii e Whakthalah que eles me divertiriam tanto, no processo de criá-los e depois, como é o caso da caixa de comentários em tela.

    Você tem razão. Está cada vez melhor.

    Agora, sou um tanto lento nessas coisas, portanto, por favor me esclareça uma dúvida com sua percepção feminina:

    Estou sendo paquerado pela Helena ou fiquei maluco?
    Se for o caso, é um triste caso de gerontofilia.
    kkkkkkkkkkkkk

    Da ultima vez que uma garota implicou comigo assim, a coitada ficou casada comigo por 18 anos!
    ^^
    Cheros!

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  9. ei devia ter perguntado é pra mim!
    Resposta pras duas coisas, sim vc ficou maluco e sim eu estou te paquerando.
    kkkkkkk
    Seu bhobo.
    Desculpa Pandora, mas ele devia ter perguntado era pra mim

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  10. Ei, me tire dessa que eu to solteira a dois bilhões de anos, não entendo nada de relacionamentos e namoros e flertes. Mas estou pensando nos seus Whashaii e nesses meninos de destino triste... Ai lembrei de uma coisa, tipo Jesus nasce, morre e ressuscita todo ano simbolicamente em trocentos lugares diferentes no mundo e ninguém morre no processo... Sera que esse culto não podia permanecer mais de uma forma mais simbólica e menos lateral???

    P.S.: Estou adorando a Helena!!!! E sempre achei que você adora ser velho, vc já era velho na infância (na minha opinião) deixe de azucrinar a menina... Ela prometeu te alimentar o que mais uma pessoa pode querer??? - #MedoDaResposta kkkk

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  11. Cara Pandora,
    A analogia é boa, mas ainda esbarro em algumas questões (teimosia e crueldade minha em sanar o drama dos meninos whashaii), por exemplo, sempre apreciei nas culturas "selvagens" a literalidade na maneira como interpretam seu mundo.

    Mas a semente da Julieta Whashaii está lançada. Por essas alturas, creio que a tribo já enfrenta sua pequena (mas significativa) revolução.

    Quanto à Helena, também gostei dela...
    Porque acha que estou implicando com a pessoa?

    kkkkkkkk

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  12. Meu Deus, como digitar comentários no celular produz erros atrozes... Kkkk Menos mal que alguma semente germinou!!! Helena, Boa Sorte!!!

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  13. Cara Pandora,
    Desencana dos erros de digitação, moça...
    Eu nunca me dei com mídias smartphonicas (uia!mais um neologismo!kkk) por pura inabilidade de usar simultaneamente ambos os polegares.

    Ainda estou digerindo algo que você disse, sobre eu gostar de ser velho...
    Caramba! Verdades, sobretudos as que se conhece tardiamente, tem o efeito de um soco no estômago!
    Me deu um nocaute, moça, coisa pra um post novo!


    Quanto a Helena, eu estava (de novo) fazendo graça, porque eu havia dito pra ela que gostava de culinária tailandesa e croata (mentira, é claro. Mal conheço a gororoba de Minas.kkkk) e que se ela iria me alimentar...
    kkkkkk
    E sorte, minha amiga, "é quando a flecha acerta o guerreiro ao lado".
    ^^
    Cheros

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  14. Nem quando eu tento brincar eu sei brincar... olha ai...

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  15. kkkkkkkkkkkkk
    Pandora...
    Voce sabe brincar sim, moça (Oxi, como sobreviveria com os monstrinh...Hã, crianças da escola se não soubesse?).
    Já me deu provas contundentes disso.
    O que você parece que ainda não percebeu é que eu sou especialista em desconcertar as pessoas, sobretudo aquelas de que gosto em demasia..
    E, pobre moça... Você sempre andou na ponta da lista das pessoas de quem gosto.

    Eu desconcerto e você inquieta.
    Cada qual com seu kharm...dom, moça.
    kkkkkk

    Cheros!

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  16. Aaaah Sageee!!! Como não te amar?!?! hahaha Você também está na ponta das minhas pessoas queridas, amadas e tudo o mais!!! Cheros!!!

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