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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma chuva que não vem...


Dir-se-ia ter eu seiva nas veias, pois outubro agoniza e eu anseio o desabar do céu em chuva, para me tirar desse estupor e me lançar em outro...
Uma chuva que não vem...

Onde foram o negro céu, a tempestade majestosa e o uivo furioso do vento de outubro?
Algo floresce mais do que plantas, nesses dias em que costumo desabar pra dentro de mim enquanto olho pela janela o mundo inteiro se recolher fugindo da chuva.

Uma chuva que não vem...

O sol impera absoluto no céu e impossibilitado de fazer meus voos labirínticos pra dentro, olho pra fora, pro leste, pra brisa fresca dessa tarde quente, soprando, balançando a copa das árvores com a suavidade de um balançar de cabelos e penso no que eu não queria pensar.

Penso no tempo e no que ele levou e trouxe...
Em tanta coisa que foi e não foi dita e não pensada e não vivida e nessas encruzilhadas todas onde é certo, assombram os espectros das direções que não tomei.
Faço balancetes silenciosos e uma sensação de frio, no calor dessa tarde, percorre minha espinha e eu anseio pela chuva...

Uma chuva que não vem...

Mas me vêm essa inquietação teimosa, fruto de lembranças a que o tempo já deveria ter esmaecido, e orbita sobre minha cabeça em trajetória elíptica .

Algures, em ermo que só deus sabe, alguém olha pro tempo e anseia também e eu penso se é fatal essa sina de estar sempre se sentindo alheio.

E não obstante a carência de fé nos gestos e nos motivos, escrevo como em um ritual e deixo rastros, migalhas de pão a indicar o caminho de casa...

Talvez na esperança de que mesmo na chuva ou na falta dela, não se percam nem o caminho e nem aqueles que estão destinados a percorrê-lo...


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Os Whashaii e Meu Interesse por Física Quântica


No século IX antes de cristo, em um lugar ermo, próximo de onde é hoje a Polinésia, existia uma tribo peculiar, os Whashaii (pronunciá-se "uuuaaakaii-e"), que em em sua linguá nativa significava "aqueles que caçam o sol".

Essa tribo, dentre seus muitos costumes peculiares, tinha uma forma de culto que envolvia a escolha de um ser humano para encarnar seu deus-menino, Huakthalah. 

Huakthalah era um deus-menino eternamente com 17 anos e como era necessário manter seu deus tanto ao alcance das orações quanto dos dedos, os Whashaii, que consideravam absurdo simbolizar em matéria morta um deus vivo, escolhiam uma vez a cada ano, um dos seus filhos com essa idade para encarnar seu deus.

Ao garoto que cabia essa honra eram atribuídos todos os benefícios da divindade, a saber, um templo, acólitos para o servirem, adoração, tratamento especial dado pelos acólitos que em tudo atendiam o deus-menino no que este necessitasse ou em seus caprichos mínimos.
Homens vinham em busca de seu conselho para a pesca e para a caça, agricultores o consultavam sobre a ocasião propícia para o plantio e a colheita, mulheres vinham acasalar com o deus menino como garantia de que seriam sempre férteis e que seus filhos seriam fortes.

O menino que fosse escolhido para por um ano ser o avatar do deus Huakthalah, recebia tudo o que seu coração desejasse, enquanto era a encarnação do deus e esse tratamento tinha um motivo:
Era uma compensação, porque ao término do ano solar dos Whashaii (que era de 383 dias), o deus menino completava a maioridade e necessitava ser substituído.

O problema, era que não havia um plano de aposentadoria para deuses depostos e ocorre que Huakthalah era o deus da fertilidade, da virilidade e da mudança, então, quando terminava seu ciclo de 383 dias como um deus, o garoto era levado, em uma grande cerimônia que envolvia a tribo inteira (com exceção dos garotos com menos de 18 anos), até a beira do mar.

Ali era castrado (e seus testículos e pênis eram depois cremados e as cinzas bebidas junto com vinho de banana por todos os homens) e morto com golpes de um remo cerimonial na nuca.

Os guerreiros levavam o corpo do deus morto até o mar, onde o entregavam às ondas.

Naquela noite havia uma grande festa na tribo e os homens dançavam em volta da fogueira, orgias aconteciam na luz das labaredas e nas cabanas, amedrontados os meninos de 16 pra 17 anos suavam de pavor, porque no dia seguinte, um deles seria um deus.

Se você procurar referências sobre os Whashaii e seus deus-menino Huakthalah no Google, não irá encontrar por dois motivos:

O primeiro é que a tribo é do século IX antes de cristo e não foi catalogada e se o foi, estava decadente, recebeu outro nome e nada se soube sobre seus costumes e seu deus.

O segundo e principal motivo, invalida o primeiro motivo e tudo o que foi dito até agora é o seguinte: Eu inventei essa história toda!

Nunca existiram Whashaii e menos ainda Hukthalah.

Inventei essa potocada em uma conversa divertida com uma namorada.
Foi mais ou menos assim. Eu estava fazendo graça e me gabando, daí ela:

(...)
-Que você pensa que é? Um deus?
...
-Que foi?
-Nada...
-Fala logo!
-Tá bom, mas prometa que não vai me interromper enquanto falo...
-Ai ai.. tá, fala,

-Eu não sou um deus, mas já fui um, em uma encarnação passada... Foi assim, no século IX antes de cristo..."

E lá me vieram na hora os Whashaii e Huakthalah na cabeça.
E dei tantos detalhes na coisa, que ela depois custou a acreditar que inventei tudo.
Foi só pra ter uma conversa interessante e diverti-la com o suposto da minha megalomania, porque eu nem acredito em reencarnação, mas em uma vida anterior teria sido um deus...

Semanas depois assisti a um documentário que falava de física quântica e universos alternativos.
Postulavam lá que cada vez que você escolhe seguir um caminho, cria-se outro universo, um em que você tomou o caminho que não escolheu neste.
E isso faz toda a diferença.
Claro, estou fazendo uma interpretação rasteira de uma teoria que mal compreendo.
Ainda estou tentando entender a teoria quântica e também o sedutor trabalho de Robert Lanza, mas se ele estivere certo e a consciência criar o universo (e não o oposto, como estamos acostumados a pensar), é possível que eu tenha criado um universo à parte, apenas por pensar nele - embora não seja esta a afirmação do Biocentrismo ou da física quântica, mas inferência minha- (deixa eu devanear, pô!), um em que centenas de meninos serão sumariamente emasculados e mortos. 
Condenei essa gente toda a uma morte cruel, só para distrair minha namorada.

É possível que algum palerma em universo anterior, tenha ferrado a nós todos, contando-nos como história para alguém, por um motivo ainda mais fútil...
E a gente chamando o cara de Criador...
Putz!

Por outro lado, de certa forma, é reconfortante pensar que em algum universo as coisas que deram errado para mim neste tenham dado certo.
Em algum desses universos aí, pode ser que eu esteja vivendo, livre do peso de tantas culpas carrego neste.
Todas as escolhas que eu não fiz e pelas quais lamento, é possível que não estjam mortas.
Se Lanza estiver certo (tomara que esteja) é possível que nada morra!

Claro, há, seguindo essa linha de raciocínio, universos em que estou pior, ou em que nem estou, mas ainda assim, consola meu coração pensar que no infinito ha universos em que eu tenha na alma a calma que não consegui neste e em outros eu tenha finalmente consumido o mundo em chamas e  destruído tudo, como frequentemente desejo fazer neste.

E me perdoem Lanza e os teóricos quânticos (cujos trabalhos mal comecei a conhecer e pelos quais sou fascinado), mas o genial Álvaro de Campos/Fernando Pessoa já no comecinho do século vinte esboçava os conceitos sobre os quais agora se debruçam.

Pois se vocês lerem as linhas abaixo e tiverem como eu um conhecimento mínimo sobre a teoria de universos alternativos da física quântica, compreenderam as similaridades. Leiam, porque eu vou dar um tempinho aqui e tentar consertar a lambança que fiz no universo dosWhashaii.
Não que eu me sinta culpado, é claro. Afinal, fui o deus deles. É minha prerrogativa divina ferrar com o universo deles ou consertá-lo, ao meu bel-prazer.

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,  
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,  

Relembro, velando em modorra incômoda,  
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.  
Relembro, e uma angústia  
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.  
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!  
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.  
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.  
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,  
Na ilusão do espaço e do tempo,  
Na falsidade do decorrer. 
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;  

O que só agora vejo que deveria ter feito,  
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —  
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,  
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver ... 
Se em certa altura  

Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;  
Se em certo momento  
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;  
Se em certa conversa  
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —  
Se tudo isso tivesse sido assim,  
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro  
Seria insensivelmente levado a ser outro também. 
Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,  

Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;  
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;  
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,  
Claras, inevitáveis, naturais,  
A conversa fechada concludentemente,  
A matéria toda resolvida...  
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói. 
O que falhei deveras não tem sperança nenhuma  

Em sistema metafísico nenhum.  
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,  
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?  
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.  
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos, 
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca  

Como uma verdade de que não partilho,  
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.




terça-feira, 10 de outubro de 2017

É um convite pra dançar

(...)


Ahahahahahahahahahahaha!!!

Que...De que diabos está rindo afinal?

(De uma coisa que na verdade devia me fazer chorar, mas), porra, você está aí falando da sua preguiça de "amores impossíveis" e de gente que teima em vivê-los e estou pensando em quando vai perceber que ainda não entendeu o óbvio...

Me ilumine, então, ser superior... Não entendi o quê exatamente?


Eh...Simples. TODO AMOR É IMPOSSÍVEL!.

(...)
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