Voltando do segundo dia de um congresso de Psicanálise e Medicina, descubro para minha agradável surpresa que ainda existe esperança para minhas ambições psicanalíticas: Consegui entender quase tudo o que disseram os lacanianos em sua retórica impecável sem ter de recorrer a um dicionário de psicanálise. Isso é muito animador.
O congresso está sendo ótimo. Gente do país todo (e de fora), profissionais excelentes dividindo experiências e diálogos multidiciplinares enriquecedores.E eu estouatordoado tentando pensar a Psicanálise sendo praticada na corrida de leitos de um hospital, fora do seu Setting (ou construindo um novo) e em como se dará a relação transferencialna rapidez das relações paciente-hospital-analista (não mais duaisanalisando-analista) e o que representará esse terceiro ente nessa relação.
Mas embora eu conheça a noção de “desejo” e “falta”, essa frase de Jacques Lacan, que não entendi, ainda martela na minha cabeça.
“Amar é oferecer o que não se tem a quem não o deseja."
E talvez fique martelando por um bom tempo, porque eu costumava apreender essas coisas instintivamente, mas quer me parecer que a garantia da minha intuição já expirou.
Então, mes ami internautas transeuntes que por aqui passarem, caso saibam o que Lacan quis dizer, por favor, dividam comigo suas impressões.
Já são quase dez horas e ainda tenho mais um dia de congresso pela frente, então vou tratar de dormir, antes que dê meia–noite e eu vire a porcaria de uma abóbora.
Muito honrado fui na memória de alguém que, tendo assistido a algumas semanas à uma cena em uma novela, lembrou-se de mim por causa de uma cena em que Osmar Prado cita (ou melhor dizendo, recita) Fernando Pessoa. Tenho eu (que vaidoso sem motivos para sê-lo, no entanto entrego-me a vaidade como a muitos outros defeitos) sérias razões para crer que foi justamente pela contundência tanto do poema, quanto pelo modo como foi recitado, que esta pessoa lembrou-se de mim, porque ainda não aprendi a por freios nessa coisa demoníaca que tenho entre os dentes. Então, tendo assistido ao vídeo com a cena, resolvi dividir com quem quer que passe por aqui, o meu apreço pela pessoa que lembrou-se de mim, pelo maravilhoso poema do maravilhoso Pessoa e pelo talento de Osmar Prado, com a ressalva de que, inspirado pelo poema, devo dedicar as suas linhas para:
“Os meus entes queridos, pessoas que me tem agraciado com sua indulgencia e compaixão.
Para os notáveis, honoráveis deuses de minha vida, a quem tenho dedicado a adoração mais servil.
Aos salvadores de minha alma que tem sempre me trazido à lembrança a mesquinhez de meus atos, a malevolência de minhas motivações, o fato de que como carne e não reciclo o lixo; Que sempre torço pelos vilões, pelos feios, pelos rudes e pelos marginais apartados da beleza e da virtude humana.
Que sou má influencia para os inocentes e um estorvo para os sábios...
Dedico aos os que sempre observam que dou mau exemplo às crianças e que tenho muitas vezes desalentado os velhos e que me trazem a memória o fato de que, sóbrio, sou inconveniente e ébrio, intoleravelmente tolo .
Aos que me recordam sempre que assim como todos os meus heróis e patronos, morrerei louco, bêbado, abandonado, entregue ao opróbrio e condenado ao inferno.
Aos meus estimados entes queridos cuja memória prodigiosa guarda e remete sempre às besteiras que tenho dito ao longo dos inúmeros porres, mais de sonhos que de álcool e que fazem questão de no ensejo de levarem-me a redenção, torcerem o dedo em minhas feridas.
Àqueles cuja inteligência férrea afia e manifesta a minha tolice
Aos meus bons patrícios e amáveis companheiros, cujo bom exemplo e bom-mocismo me tem tanto inspirado à mudança, quanto me desiludido na impossibilidade de me ver capaz de vôos tão altivos quanto as suas almas puras.
A estes dedico o excelente Poema em Linha reta, do maravilhoso Fernando Pessoa, na interpretação sublime de Osmar Prado".
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Contaram-me uma história uma vez sobre como se domestica um
elefante. Disseram-me que quando ele é um filhote, colocam uma corrente em suas
patas. Ele luta por muito tempo para romper aquilo e se libertar, mas com o
tempo, acaba por acostumar-se e então, mesmo um elefante adulto de muitas
toneladas, pode ser aprisionado se lhe amarrarem as patas com uma fita de seda.
Vítima de sua própria memória prodigiosa, o elefante nem vai tentar resistir a
sua “corrente”.Fiquei pensando se não nos educam para a vida do mesmo modo e o
que nos tornaríamos se por acaso percebêssemos que todas as correntes estão na
verdade, não nos pulsos e pés, mas em nossa mente. Ah... História chata! Me
contaram outra melhor sobre um menino num planeta.
Era só um pedaço de rocha, não muito maior do que uma casa,
mas para ele era todo um mundo. Vai entender...!
Estava razoavelmente feliz em suas pequenas fronteiras,
assistindo a infinitos pores-do-sol apenas
recuando a cadeira, porque as flores de seu pequeno mundo eram belezas efêmeras que não chegavam a enternecer seu coração. Surgiam de manhã e
sumiam com o primeiro vento da noite, mas esse mesmo vento trouxe um dia, de
algum lugar do céu, a semente de uma rosa. E todas as estrelas se tornaram de
repente enormes e misteriosas e ele,
amando pela primeira vez, soube que nada sabia sobre o amor.
Fugiu de casa
aproveitando os pássaros que se evadiam e dizem que morreu um dia na tentativa
de voltar. É um incerto caminho de volta e nos dilaceram aqueles que o tomam...
...
Foi uma história estranha sobre alguém que precisou sair de um
lugar apenas para saber que era justamente ali que residia seu coração, mas não
posso julgar o protagonista dessa história. Estava apaixonado e não se pode
esperar que alguém nesse estado pense com coerência. Essa é justamente a graça
da coisa! Sei como é... Ou pelo menos, penso que sei.
Alguma coisa como um rio de água gelada correndo por seu
estomago enquanto um vulcão lhe explode o peito e relâmpagos saltam dos seus olhos... E ao mesmo tempo uma
sensação pavorosa de fragilidade, como se seus ossos fossem constituídos de
vidro. Mais ou menos assim. Mas foi a tempo demais e se não se pode confiar nos
pensamentos de um jovem apaixonado, tampouco há de fiar-se na memória de quem
se lembra de eventos que parecem ter acontecido a um milhar de anos.
Também conheço o poder sedutor do abismo te olhando de volta
pelo buraco da fechadura.
Conheço, mas que sei eu de fato?
Que às vezes vão-se os dedos junto aos anéis e isso é muito
triste para quem gosta de apontar estrelas. Que quando um sonho morre (e alguns
precisam se assassinados por que são resilientes demais) outro toma o seu
lugar... Para o sonhador não importa muito, mas...Para onde vão os
sonhos que matamos ao longo da vida?
Em
trinta e sete anos(Uau? Vai tempo aí!), devo ter um pequeno cemitério deles em algum lugar remoto
da memória, talvez, por detrás daquele aglomerado de lembranças que no afã de
viver mais do que eu tinha direito, acabei me esquecendo de esquecer. E talvez
isso explique a constância dos meus adoráveis pesadelos; seriam os fantasmas de
muitos sonhos que assassinei. Meus pequenos abortos oníricos vingativos tentando
me empurrar no precipício da razão.
Cair, é claro, nunca foi um grande problema.
Caem homens, folhas das árvores, caem anjos...Na verdade, a sensação é quase boa! Em
qualquer circunstância, vento no rosto é sempre agradável. O problema é o chão
que teima em subir com violência em direção à fragilidade dos nossos corpos,
pulverizando junto com eles os nossos anseios por todas as formas possíveis de liberdade.
Ele vem velozmente em nossa direção como o futuro que nos atropela com seus
prazos cada vez mais curtos.
Alguém aí por acaso reparou que os dias parecem
ter agora menos minutos disponíveis para
que possamos devanear?
O presente é aquele momento que não tiramos para conferir se
o peão parou ou não de girar.
E o passado? No fim é apenas um amontoado de histórias que
se esgueiram pelos pensamentos, recusando-se a morrer. Como alguns sonhos... Dele,
trazemos apenas umas rugas no sorriso e uma expressão feroz no olhar de quem já
viu muito, expressão que erroneamente denuncia uma raiva inexistente (e nós já
quase temos saudades dos tempos em que a raiva era uma constante em nosso
sangue juvenil).
E nem dá mais para acumular alguma poeira, num desalento
qualquer.
Ficar num canto remoendo amarguras deixa de ser uma opção quando o
mundo gira, as horas passam, o guarda apita, o trânsito anda e você está (de
novo) atrasado para o baile de máscaras do mundo.
Ah e o sujeito que contou a história do pequeno e errante príncipe,
também disse isso:
Não é alcançada a perfeição quando nada mais há a ser
incluído, mas sim quando não há mais o que ser retirado.
Contabilizando tudo
o que nos foi tirado (ou que permitimos que nos tirassem ou aquilo de que nós
mesmos nos privamos), talvez estejamos todos bem mais perto da perfeição do que
supúnhamos. Antoine Exupéry era, como todo louco sonhador, um homem muito
sensato.
E se eu rezo, a única oração
Que move os meus lábios para mim é:
"Deixe o coração
que eu agora carrego
E me dê liberdade!"
Sim, à medida que os meus dias velozes se aproximam de sua
finalidade,
Isso é tudo o que eu imploro
Na vida e na morte, uma alma sem grilhões,
Com coragem para suportar.
"O homem razoável se adapta ao mundo. Aquele que não é razoável, persiste em querer adaptar o mundo a si próprio. Por isso qualquer progresso depende do homem não razoável."
A cena foi a seguinte; fulano me encontra na rua e me
pergunta fulo da vida porque diabos não respondo seus recados no Orkut. “Orkut?
Como é que se come isso? Serve com vinho tinto ou branco?”
E eu até havia
esquecido que tinha feito um Orkut e também que havia adicionado fulano ou Add,
como se diz em “orkutês”. E pelo visto, fulano que mora a poucas quadras da
minha casa esqueceu meu endereço, telefone e email, porque aparentemente
precisava muito falar comigo e não tinha outro recurso que não o Orkut. Como
fulano estivesse acompanhado e o assunto parecia ser sigiloso (já que ele me
deu o pito pela minha descortesia e se foi tão rapidamente quanto veio) logo
que cheguei em casa fui ver o que era tão urgente assim para que ele me
enxovalhasse em publico apenas por não responder aos seus recados. Fazendo um
pequeno mea culpa, tenho de reconhecer que tenho uma mania de mandar emails
enormes para meus amigos e isso talvez explique o porquê de fulano evitar
minhas muitas laudas e optar pela velocidade do Orkut e MSN, porque se supõe
que eu deveria acessar isso todos os dias e o formato desses canais invibialisa mensagens longas.
Enfim...
Tive um trabalhão danado para me lembrar da senha.
Passaram-se muitas semanas desde meu ultimo acesso e quando finalmente consegui
acessar, havia cerca de 80 recados não lidos. Um terço deles de fulano. Para a
minha surpresa estavam ali ainda todos os meus “amigos”. A maioria, pessoas da faculdade. Os outros,
não faço idéia de quem seriam. Nos poucos minutos que fiquei lendo os “recados urgentes” de fulano, vi que
se tratavam de coisas como:
“E aí? Comé que foi o
findi?”.
Percebi imediatamente que precisava urgentemente atualizar o meu
orkutês, porque foi com muita dificuldade que consegui entender que fulano
estava querendo saber como havia sido o meu fim de semana. Na verdade, ele
parecia ter grande interesse em como seriam ou teriam sido os meus últimos seis
finais de semana e se mostrou persistente nessa curiosidade, já que eu nunca o respondia
e ainda assim ele continuava indagando de mim como foram. Ou expressando desejo
de como seriam. O curioso é que alguns desses “findis” passei quase que
completamente na companhia de fulano, daí meu espanto por vê-lo curioso por
estes, sendo ele ator e autor de boa parte do enredo da história.
Lendo o ultimo recado
tomei um susto: Fulano me enviou um “scrap” de um ursinho sorridente cheio de
glitter com um coração ao fundo e em letras garrafais arco-irisadas (e também
glitteradas) os mesmos votos: Bom fim de semana!
Só então venci a lentidão do meu pensamento (Jesus! Sou
mesmo um retardado!) e entendi que Fulano estava me gozando. Respondi na mesma
letra:
“Caro fulano,
A despeito de seus calorosos votos, meu final
de semana foi uma droga. Recebi visitas desagradáveis, tive enxaqueca, meu time
perdeu ( e eu nem gosto de futebol), o gás de cozinha acabou no meio da tarde
de domingo e meu cachorro mordeu o filho da vizinha. Embora eu não seja
supersticioso, por força dos eventos recente sou forçado a considerar a possibilidade
de serem justamente os seus votos os causadores de todas as minhas adversidades
de fim de semana.
Agradeço pelo seu interesse, mas escusado está de “passar
para deixar um oi” ou “alguma corrente do bem”.
PS: Vá à @#% seu pé frio!
Depois disso, não entendi porque ele se recusou a falar
comigo. Tenho quase certeza de que ele levou mais para entender que eu o
insultava do que eu levei para entender seus bons votos em orkutês. Disse que
eu o constrangi em publico.
O que não me entra na cabeça, é porque um sujeito que não
tem o menor pudor em me deixar um urso glitterinado (que agitava os braços como
um boneco de posto de combustível) onde todo mundo poderia ver se sente no direito de ofender-se apenas
porque o mandei ir as favas.
Penso que o sujeito que inventou o glitter é um terrorista da
pior espécie. A CIA e o MOSSAD deveriam caçá-lo implacavelmente (porque deve
ter se evadido para algum ermo remoto depois de lançar esse flagelo sobre a
humanidade), abatê-lo a tiros e sepultar
o corpo no mar.
Fulano não fala mais comigo e sei lá porque isso não chega a
me perturbar. Geralmente eu aprecio que as pessoas estejam “de bem” comigo, mas
depois dos ataques glitterinados deste meu amigo, passei a considerar
compassivos e até agradáveis as agressões dos meus poucos e desconhecidos inimigos. Paus, pedras, balas
facas e afins podem até destruir meu corpo, mas glitter...Aí é minha suposta
alma imortal a correr perigo.