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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Uns fragmentos de William Butler Yeats


Aquela moça ensandecida,
Ao acaso forjando a sua música e poesia,
Dançando em meio à praia; a alma  a parte de si mesma,
A subir e descer aonde a moça não sabia;
A esconder em meio ao peso da bruma,
A rótula quebrada,
Eu proclamo essa moça algo de belo e alto,
Ou algo perdido com bravura e de mesmo modo,
Com bravura encontrado.

Pouco importa o ocaso, a tragédia,
Ela envolvia-se em desesperada música,
Ela abraçava-se, afagava-se,
E não se ergueu em triunfo,

Onde os fardos e pesos repousavam,
Som que fosse simples e inteligível,
porém cantou: "Mar esfomeado, ó mar faminto de mar".

No Oriente, ela oculta alegria antes pouco antes de partir pela manhã.
No Ocidente, ele chora no orvalho e anseia pelo passado morto,
O vento Sul está a derramar as rosas de fogo carmesim:
A vaidade da Letargia, a esperança, a ilusão, o infinito livre arbítrio...
Os cavalos da desgraça imergiam no barro pesado.

Amada, aceite estes meus olhos próximos aos teus,
O seu coração batendo,
Sobre o meu coração a bater,
E seu cabelo a cair  macio sobre a densidade do meu espírito.
Afogo do amor perdido na hora da mais profunda sombra,
Ocultam suas crinas golpeando o mundo sob seus cascos de tormenta...


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma reflexão sobre a minha humanidade...

Eu havia prometido não falar mais de deus ou dos deuses.

Eu já prometi não prometer nada. 
Tem muito que eu já disse que não mais faria e faço e farei (e aqui estou eu, na minha trocentésima postagem quando me vem a memória a promessa de não escrever mais nada).

E tem tanta coisa que eu já me propus a não fazer (ou mesmo sentir) mas eis que me encontro sempre e sempre de volta a velhos hábitos, como um maldito viciado, que sim, me assumo uma pessoa volúvel (desgraçadamente ciente de que o é, para azar meu) e lá vai:
Sobre os deuses...

Religiosos enchem o saco.
Ateus idem e com a mesma virulência.

E eu sou um apóstata de todas as minhas crenças e descrenças e por vezes, defendo com tanta veemência os meus não-pontos de vista, que me irmano a camarilha irritante de gente que teima em impor a sua visão de mundo aos outros. 

Mas como já falei deles e me causam preguiça mortal, quero mais é que se danem. Ou que me permitam danar-me em paz...

Mas hoje tenho de abjurar da crença em um último deus em que eu depositava alguma fé.
E desconstruir outro que eu sequer sabia que recebia culto e reverência.

O primeiro é o deus Diálogo. 
Confesso que o altar deste recebia de mim as mais fervorosas orações e súplicas.  Eu pensava ( e alguma parte quase perdida de mim ainda pensa) que qualquer coisa entre as pessoas poderia e seria resolvida, compreendida, apaziguada, conciliada, sancionada em comum acordo ou de outra forma, que o Diálogo era a ponte que uniria e a marreta a quebrar os muros entre os seres humanos...

Mas a nossa era é uma era de medo do Diálogo, das conversações em poucos caracteres, porque as pessoas não mais falam, por medo de se expor e não ouvem, por receio de não compreender aquele que por ventura se arrisca a mostrar que não é um super-homem e que chora e que ama e que sangra...

O medo e a resultante incapacidade de reflexão e consequente compreensão do outro, matou o deus Diálogo. 

Ainda que haja retórica em contrário, toda a conversa que se tem é campo de batalha para fazer valer a força, não da lógica ou da razão, mas a força da força, trincheiras onde as pessoas que querem parecer fortes se escondem com medo que o outro veja a sua fragilidade.

Homens  de vidro voluntariamente mudos e surdos em armaduras de aço.

O segundo deus a quem tenho de mandar ao limbo sou eu mesmo. 
É sério!

Fui até ontem uma divindade.
Não aos meus próprios olhos, está claro.

Mas aos olhos equivocados de pessoas que cismaram sei lá por que diabos, que eu era um tipo qualquer de Lama iluminado ou um guru espiritualizado. 

Teve gente que teve receio de me falar coisas muito simples, como se eu fosse uma coisa qualquer de pura ou muito santa que não deveria ser conspurcada por linguagem baixa ou assunto chulo.

Mais de uma garota me brindou com o maldito “amor Ágape” (e teve a feliz ideia de me contar essa porcaria, à guisa de fazer-me sentir “especial”), castrando-me, desprovendo-me  de pênis, testosterona e defeitos, me colocando numa droga de altar quando eu queria que me quisessem na cama ou no inferno, que são os lugares em que uma mulher deveria colocar o homem que lhe serve ou não lhe serve.

Mais de um homem tomou-me a bênção ou veio a mim em busca de conselho sobre coisas que eu ignorava (e ainda ignoro) ou buscando perdão por pecados cometidos, não contra mim, mas contra si mesmo, como se eu, pelo suposto da minha “idoneidade moral”, estivesse em posição de dar-lhes a absolvição que eles próprios não se davam.

As pessoas que eu conheço ficam particularmente chocadas quando me posiciono a favor do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, da Auto-eutanásia, da liberdade irrestrita de pensamento ou contra a pena de morte (ééé... Porque "gente santa", em geral, curiosamente é a favor da pena de morte).

Acham absurdo que eu coma carne e não recicle o lixo e pensam que eu fico a vida inteira com a cara enfiada num livro, meditando, em contemplação de sei –lá que universo metafísico, procurando a solução para os grandes males da humanidade enquanto as pessoas reais vivem vidas reais.

Pro inferno com o amor Ágape! Pro inferno com toda a deferência com que me tratam!
Sou um homem, não um clichê de “ser superior”.

Eu sou desse mundo mes amis, ainda que não o compreenda.

Justo eu, o pior ser humano que eu conheço (até porque eu sou o único que realmente conheço, já que está todo mundo entrincheirado e com medo de se mostrar, mas eu não posso esconder de mim o que sou)!

A droga é ter de reconhecer em mea-culpa tardia que, se mais de uma pessoa me viu com esses olhos embevecidos e reverentes, é porque eu, de alguma forma tenho passado essa imagem a meu respeito, a despeito de todos os meus esforços para dizer da minha humanidade.

Daí abjurar do deus diálogo e do suposto da minha divindade.


Daí estar inclinado a viver, pensar e escrever com um tanto mais de agressividade, fazendo uso dos atributos que são considerados “humanos”, não para convencer meus confrades de que sou gente, mas para o reafirmar para mim mesmo, por que seria o fim da picada se eu me deixasse convencer pela opinião corrente de que não sou...

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sabe o Fulano?! (ou de como as 8 da manhã de sábado perdi mais um amigo por falar o que penso)

Luiz, cê não vai acreditar!!
...?
 Sabe Fulano..?!
Que é que tem ele?

Cara, cê não imagina...!
...
Fiquei sabendo agorinha! Ele assumiu que é gay!!!
...
...?
E aí?
Aí o quê?
Não vai falar nada?

Tou esperando você me falar a grande “bomba” sobre Fulano...

Mas então!?

Então o quê, jesus!?
Ce me ouviu? Fulano é gay!

E daí? Porque é que eu não acreditaria nisso?
Vai dizer que ce sabia!?

Sabia o que?
Que ele era gay!??

Era? Ora, pois então não é mais?
@%$*! Você sabe do que eu estou falando!

Você supõe que eu saiba. O problema é quando eu também suponho. Ta, ce quer saber se eu sabia que ele É homossexual? Não, não sabia. Mas também não sabia se ele era heterossexual...
Coméquié?

Sabe...Heterossexual; Pessoas que se relacionam sexualmente com pessoas do sexo oposto.
Eu sei o que que é “hétero”!

E então.
Então o quê?

Então eu nunca soube se fulano era heterossexual, daí também não saber se ele era homossexual... Também não sei de você. Porque é que eu saberia? Nunca me interessei na verdade.
Mas que porra de conversa é essa?

Cê já me viu fazer sexo com alguém?
Que merda, claro que não! E por que eu veria!?

(É mesmo...Por que você veria..?) Então!? Como é que você sabe se eu sou gay ou não? Como é que sabe que eu não gosto de homem?
Mas você é casado e tem filho!!

Fulano também. Você também.
Tá querendo insinuar o quê? Que eu sou gay? Que você também é gay?

Uai e se eu fosse? Ia sair daqui correndo e contar absurdado pra algum amigo como se fosse a coisa mais fantástica do mundo?
Mas...

Híí...Já ta me olhando esquisito. Afastando a cadeira... O quê que há “bofe”? Tá com medo que eu te pegue? Hahahaha!
Pára!

Pra sua informação (e provável decepção), não, eu não sou homossexual, se é que isso é da sua conta.
Mas o que me deixa pasmo é você vir aqui falar de um cara que a gente conhece há vinte e tantos anos de um aspecto da vida dele que a gente não sabia (e ainda não entendi porque diabos a gente deveria saber ou não saber disso), mas parece agora que ele veio de Saturno ou que tem tentáculos.

Ô, né preconceito não! Mas, cara, porque ele não falou pra gente?

E pra quê ele falaria? Que é que isso interessa? Alguma vez você já me disse que era hétero?

Né isso não!
...?
É que...sei lá. Parece que eu não sei mais nada sobre Fulano...

Só porque “por acaso” o cara assumiu que é gay? Bom, aqui vai o que eu sei de Fulano: Cara legal, conta péssimas piadas, dança bem, me roubou uma namorada na oitava série, adora os filhos, briga, com a esposa, gosta de Creedence (eca!) e me deve uns oitenta reais (aquele dali não paga gente viva!)...Ah e “agora” é gay!

Mas custava falar?
De novo: Pra quê? Que diferença faz? Você ta com quarenta anos e tá reagindo assim. Imagina como reagiria se ele te falasse quando éramos moleques...
Eu realmente não entendo porque isso te incomoda tanto...! Pleno século vinte e um e alguém ainda se impressionar com a sexualidade dos outros como se fosse o fim do mundo!

Puta merda! Mas cê faz discurso pra tudo einh?

É um estilo de vida... E eu tava cuidando da minha quando você veio me enfiar a vida de fulano orelhas adentro.

Mas tem que me fazer sentir o sujeito mais preconceituoso do mundo?
Você é um filho da puta, Luiz!

(De novo) É um estilo de vida. Igual ao seu, de ser preconceituoso sem ser preconceituoso. Igual ao de fulano, que tem o direito de ser quem e o que é e falar disso ou não e você não tem porcaria nenhuma a ver com isso. Mais alguma coisa?

Só uma...Porque é que você não vai se fod@#$%?

“Me” fod@#$%? Não, obrigado. Isso daí é coisa que eu prefiro fazer com outra pessoa... Eu gosto de fazer assim. Espero que não seja um problema pra você.

%$#&@&#!!!!!


Ora, amém irmão! E lembranças a sua senhora...!

Eu não temo cinzas e nem o fogo...

Roma está a arder...
E minha inspiração me abandona porque as musas tem medo das chamas. Eu não.
Eu não temo chamas ou cinzas.
 Eu temo e sempre temi que essa cidade queimasse. Por isso mesmo a incendiei.
Eu acordava apavorado e suado e gritando na noite quando num pesadelo furtivo eu via as chamas a lamber os pátios e o templos.
Agora, que meu coração se desintegra junto com os pilares e casas e lugares amados a que estava ligado, eu olho e contemplo o pavor de um pesadelo vivo.
Eu queimo junto com esta cidade.
Mas eu temi tanto que ela se queimasse, que não tive escolha a não ser atear o fogo que agora ilumina o céu dos meus temores.
Foi a coisa mais lógica a se fazer, porque depois que só restarem cinzas, vou parar de ter medo.


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